Do lado de cá, da janela em que encostada estou, acendo um cigarro e dou um gole no café. Do outro lado – da rua, da realidade, do mundo – um operário ou O operário, pois eis que o imagino clássico em sua função: macacão azul, capacete amarelo, botas negras e luvas brancas.
Permaneço entre um cigarro e um gole de café (quente, quente) a olhar o carinha lá do alto de uma parafernália que não sei o nome. Uma cabine alta, cheia de braços e garras mecânicas, que o fazem mais parecer o próprio Doctor Octopus a favor da construção civil.
Ele lá tão alto e tão só. Eu aqui tão cheia de si e igualmente só. Não consigo parar de pensar que tipo de solidão se sente lá do alto que ele está. A minha é rasa, é mais cobra do que pássaro. É rente ao chão, é próxima a terra úmida. Ele sobe no vazio, o operário.
Eu mergulho nele, no vazio e no operário.