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Archive for the ‘Aimée’ Category

Não sou tanto

“Quem lhe disse que eu era
Riso sempre e nunca pranto?
Como se fosse a primavera
Não sou tanto
(…)

De que calada maneira
Você chega assim sorrindo
Como se fosse a primavera
Eu morrendo
Eu morrendo”

[  como se fosse a primavera – Pablo Milanés/Nicolas Guillén/Chico Buarque ]

É fácil colocar a culpa em você. Todos os meus amores mal resolvidos, todas as vezes que amei demais, as vezes que amei de menos, as crises de ciúme, os ímpetos de arrogância, os momentos que sobrepus minha opinião. É tudo culpa sua. Quem puxa aos seus não degenera. Entretanto eu teria que dizer que também és culpado por eu ter lido Feliz Ano Velho e até por eu gostar de ler. Eu ser é culpa sua, integralmente.1a5774b4ecf5127f27f15002ea085c7ec97e3c5e_m

Eu queria falar bonito e com classe, pois eu te via sempre tão desenvolto e cavalheiro, fumando um cigarro forte, tua postura me parecia tão bonita e transparecia uma segurança que poucas vezes na vida eu sentiria novamente. Era por isso que eu segurava tua mão forte e sentia medo de te perder.

Via em nós uma cumplicidade sem igual, definida a outros olhos como inabalável. Parecia que me entendias sem que eu precisasse falar e por isso, calei muito. Permaneci muda uma vida toda acreditando que há o que não precisa ser dito. Eu não verbalizava que te amava para que soubesses. Não, no meu mundo perfeito, não era necessário. Contudo, era.

Discutimos tão poucas vezes e até que houvesse de fato um desentendimento, tudo parecia sereno e compreensível. Até o dia que explodi, causei um caos e um abismo que outrora, veríamos que era irreparável já que era fruto de sementes tuas. Antes disso, houve noites em que dormi com teu cafuné, sentindo mansamente em mim tua mão de dedos longos e magros subindo e descendo meu pescoço.

Existiu também teu apartamento abarrotado de livros, de muitos livros e muita poeira. Teu cantinho era fascinação para todos os meus sentidos. O barulho da porta do banheiro emperrada me lembrava que tu estavas ali, ao meu redor, bem perto de onde eu estivesse. Porque zeloso era teu nome e eu acreditava que minha presença era tua alma. Minha existência era afirmação de tua continuidade, eu te afirmava.

Foram precisos muitos anos para que eu percebesse que não era nada disso e sentisse pena de ti sem que nascesse nenhum sentimento de compaixão. Já então eu me desgastava com o som da tua voz sempre tão gaguejada e pausada e complacente com uma vida triste, cheia de livros e com muita poeira.

Até hoje preciso resgatar qualquer coisa, em qualquer homem, como aquele amor que eu acreditava que me dedicavas. Eu não traio as expectativas de Freud. Jogo-me nos braços de pessoas erradas já que elas repetem elogios parecidos com os que me fazias e eu preciso deles (dos elogios). Enxovalhaste a mim e ao amor que eu tinha por ti, classificaste-me como escumalha e então eu soube, por meio das tuas letras e frases e rancor que eu nunca fui como querias que eu fosse ou como deveria ser.

Eu preciso que cuidem de mim sem que me sufoquem. Eu preciso também que digam que me amam e se eu ando numa de carência e ansiedade demasiada é porque não sabes avaliar que há amor acima de tudo. Eu sei. Eu que sou mais nova, que passei por cima do teu gênio difícil e dos maus humores, sei. Eu – a complicada, a adicta, a orgulhosa, a (sempre) errada – sei.

Ainda vou entender que é essa tua natureza. Mas enquanto não resolver isso comigo, tua ausência durante toda a minha vida e a parte de mim que é tua e tu desconheces, dói, pai.

Dói não ter um pai. Deveria doer mais em ti ser não ser esse pai.

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msn_messenger_logoLuciana diz:

amiga, tu é a única pessoa com quem eu posso ter DR*… além da minha mãe, é claro

Luciana diz:

porque minhas chances com o sexo oposto estão ficando tão escassas que doem

Luciana diz:

hahahahaha

Luciana diz:

por falar nisso, o Jorge ligou dia 01

Luciana  diz:

não atendi

Luciana diz:

aí ele ligou de novo

Luciana diz:

aí eu não atendi

Luciana diz:

de novo

Luciana diz:

(Y)

Beth diz:

pq?

Beth diz:

pq?

Luciana diz:

quando a pedra apertar mais eu ligo e invento uma desculpa qq pra explicar o porquê  não atendi

Luciana diz:

tenho que criar vergonha na cara, ora merda

Luciana diz:

uma hora vou ter, né, amiga

Luciana diz:

ficar dando sem fins lucrativos

Luciana diz:

mamãe disse “Mas vc é tão bonita, Luciana” …

Luciana diz:

eu acreditei

Luciana diz:

por que ele não vê isso, porra?

Luciana diz:

sou gente boa pra caralho, inteligente, assalariada

Luciana diz:

com bom gosto musical

Luciana diz:

amiga dos amigos dele também

Luciana diz:

sou pra casar

Luciana diz:

e ele tem a sorte grande de me comer

Luciana diz:

sem que eu encha o saco, sem cobranças de nenhuma espécie

Luciana diz:

e ainda assim ele liga quando quer, some quando quer

Luciana diz:

ora, vá se foder

Beth diz:

huahuahuahuauauah é isso mesmo!!!

Beth diz:

vá se foder SOZINHO

Beth diz:

ora porra

Luciana diz:

exatamente

Luciana diz:

sozinho, no apartamento de solteiro dele, masturbando a si e a maravilhosa vida de solteiro

( …)

Beth diz:

é… sou esperta para amigas… o dedo podre é para homens…

Luciana diz:

então bate, bee

Beth diz:

bate!

E ainda tentam desvendar “os mistérios da alma feminina”. Certas coisa são mais óbvias que “ligue os pontos” para uma criança de quatro anos. É ou não é?

* Discutir relação

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“O amor, ah, o amor: eu quero porque quero da vida”

Oswald de Andrade

 

 

Ouvir “eu te amo”. Dizer “eu te amo”. Falar “ou vai ou fica”. Ficar só. Chorar no escuro. Chorar por dentro, sem uma lágrima. Dormir ouvindo Chico. Contar estrelas na beira da praia. “One, two, three, floor” com tequila. Amnésia alcoólica. A dor de partir. A dor de ver partir. Saudades da infância. O sonho da escadaria e eu caindo, caindo. O sonho do carro desgovernado. A luxúria, ah, a luxúria. Tua mão me tocando em lugares públicos. A voz dele ao telefone, tão igual há tanto tempo. O nascer do sol numa beira de rio. O calor obsceno no carro e a terra avermelhada na lembrança. Aqueles óculos com lentes alaranjadas. Praia, areia fofa infiltrando-se pelos dedos dos pés a cada passo. A um passo desse tal paraíso de tantas cores. Lisergia num universo paralelo que só cruzava para nós. A chuva de folhas. A chuva com gotas grossas, doloridas na pele. Os pés calejados, a alma mais ainda. Traições, mentiras, promessas e partidas. Será que você sabe que construo diálogos e situações à distância? Acho que sou louca, ou tô pirando. Ah, falta-me fôlego para tanta luxúria. Banho de mar de topless. Gozar. Gozar a vida. Gozar dos outros. Gozar de si. Fazer amigos. Desfazer prejuízos. Reconstruir. Fazer aniversário. Não ver sentido em viver. Acordar querendo dormir ainda. Dormir. Dormir mais. Comer. Comer muito, compulsivamente. Sofrer sorrindo. Ménage a trois. Beijar aquela boca. Ah, que bocas, que olhos, quantas pernas. Os raios solares incomodando. Óculos escuros para disfarçar olhar de quem tem a alma iluminada existem? Músicas novas, novas sensações. Novas pessoas. Pessoas antigas renovadas. Sofrer, ah como dói no peito sofrer. Amar. Existe amar demais e amar de menos? É possível voltar atrás depois de dito “eu te amo”? É… eu descobri que é, porque deixei de amá-lo. Ou nunca amei. Sei lá. Deve ter doído. Cantar Beatles em cima da mesa. Sentir o vento frio na cara, cortante. Ligar de madrugada. Ficar na vontade, no desejo, na lembrança. Ler. Reler. Nascer. Morrer só um pouquinho todo dia até morrer um montão de uma vez só. E por isso renascer a cada queda e nascer puro a cada encanto. Reviver. Esquecer, apagar ou rabiscar. Tanto faz, o importante é deixar para trás. Recortar e colorir. Cheirar cada parte do teu corpo e lembrar-se de ti enfiando a cara no meu travesseiro e respirando forte. Insegurança no café da manhã e arrogância no jantar. Duas gotas de coragem no café preto e um cigarro forte para inspirar. Respirar fundo e ter plena consciência de que não importa o que a aconteça. O normal é que acontecerá tudo de novo, se Deus quiser.

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Fake

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Eu sei que tem uma razão que me explique de forma sensata – razão, cadê você? – porque quis e quero te conhecer melhor. Eu nem sei de que buraco saíste, ora. Contudo, todavia, porém, entretanto – eu e meu vocabulário rebuscado – é engraçado imaginar todos os jeitos e trejeitos das piadas que fazes nessas sempre poucas horas de mensagens instantâneas e ignorar tua procedência.

Confabulo mil vezes sobre como vai ser, quando vai ser e como vais ser. Sem essa imagem estática e sorriso congelado de foto. Não! Quero movimento. Quero que vejas o quanto gesticulo enquanto falo e quero simular ao vivo, assim, com todas as cores da minha cara pálida, o sorrisinho canalha que dei para os links sobre notícias como o inglês carente que traçou um cavalo ou a lista das 10 bebidas que tornam as mulheres mais fáceis.

Isso tudo é muito fake mesmo. É falso sentir saudade de quem não se conhece e é falso entrar numa livraria e ter vontade de comprar um livro… para quem não se conhece. É tudo extremamente fake. Sabe Deus se eu mesmo não sou forjada.

Eu vivo nessa minha bolha assim imperturbável, só deixo entrar quem eu quero. Acostumei-me a escrever cartas longas para ninguém, ir embora da vida dos outros sem me despedir, entrar sem ser convidada, falar sem ser requisitada e dar a cara à tapa. O mundo real só me pertence ás vezes. Eu devo ser um personagem de algum filme B.

Ainda sonho muito. Não desses sonhos bobos com cavalos brancos e sapatinhos de cristal. Eu sonho com viagens, com pessoas diferentes, com um milhão de lugares inusitados e os livros que quero ler. Sonho demais com a vida que eu quero ter, com as pessoas que quero ter por perto de mim. Acréscimos sempre.

E esse lance de ter pessoas legais por perto, eu mesma construo. Eu trago para meu lado quem eu quero e expulso personas non gratas, sem rodeios. Atendo a todas as minhas vontades porque acho que estou ficando velha para ter tantos pudores e sou muito nova para me privar de atender aos meus impulsos positivos. É só isso. É feio ser infeliz e limitada.

Eu escrevo muito e digo que sou prolixa para descrever isso. Eu adoro Xico Sá e o portunhol tosco dele que me disse que todo amor começa no paraíso e termina na Consolação. Eu acredito que podem existir homens legais e que meu filho fará parte desse hall, porque ele já é da nova geração de crias de mulheres bem resolvidas. Sim, eu me considero muito bem resolvida, obrigada. Eu ainda acredito nas pessoas.

Eu não minto minha idade, meu nome, meu estado civil e nem minto pro Imposto de Renda. Eu gosto de cheiro de roupa nova, de chuva e de gasolina. É, eu sou estranha. Eu estranho pessoas que falam durante os filmes e adoro Nescau gelado. Eu sou cheia de sardas no colo, nos ombros e tenho umas saboneteiras tão fundas as quais seriam um deleite para Vinícius de Moraes que dizia que mulher mesmo tinha que ser assim que nem eu, com ossos salientes.

Eu devo ser fake por te dar tantas informações assim, de uma vez só. Eu só posso mesmo é ser fake por entregar-te tanto assim, quase à toa, tanto de mim quando em outras situações foram necessárias muitas conversas e entrelinhas para saber uma coisinha de nada a meu respeito.

Mas vamos combinar que eu sei e tu sabes que essa distância é real e longa. Quilômetros e quilômetros de conversas inacabadas pelo fim do expediente. Isso sim a gente sabe que é verdadeiro. Então, aproveita que é invenção. Aproveita que não há paraísos e não haverá consolação. Haverá um dia alguns dias, quem sabe algum encontro, Augusta, um bar, algumas cervejas e só isso ou tudo isso.

Mas faz que nem eu: aproveita porque é bom, ou não é?

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Mofado

Por Aimée

Sabe que eu tento não pensar em um milhão de sarcasmos e ironias, que eu amo por sinal, só para te explicar o que sinto agora de uma forma bem bonitinha e descolada que não seja humilhante ou que não me faça parecer essa bitch que você tá pintando por aí a meu respeito. Mas, “beibeeee”, não consigo. Juro.

Eu sinto vontade de rir, eu sinto vergonha de mim e eu imagino todas aquelas pessoas que eu me afastei rindo de mim pelas costa durante tempo que eu gastava contigo. E foi assim: um gasto. Tô gasta, tô bege, tô passada e ando por aí numas aventuras tão legais  que colorem a vida que… porraa… quero rir de ti e de mim, de nós dois juntos andando de mão dadas. É piada, só pode.

Fora o fato d’eu ser problemática e fora o fato d’eu ser completamente maluca e fora o fato d’eu ter surtos psicóticos, mon amour, não tô na prateleira de qualquer supermercado. Entendes isso? Eu fico me repetindo nessa função de te fazer compreender que eu quero muito que entendas o que digo, porque é exatamente o que sinto.

Quando digo que não estou na prateleira, não só quero dizer que não possuo código de barras, manual de instruções, bula ou posologia (quiçá contra-indicações). Eu tenho uma auto-estima que baixa de vez em quando ou de quando em vez e vejo o quanto você é que é o ass hole da história, porque você sabe disso e você usou disso o tempo todo para me manipular.  

Daí eu demorei a perceber que eu sou mais, mais, mais que isso; que não tenho vocação para fazer “capa” contigo, nem para precisar de relacionamentos “muletas”. Mais uma vez me preocupo se consegues sugar a compreensão que preciso que tenhas para que esta mensagem atinja a parte do cérebro onde devem ficar armazenadas as idéias sobre “vergonha de si mesmo”.

Hoje eu cheguei a uma conclusão, brilhante por sinal, que eu adoro o que sou, como sou e eu sou assim, exatamente feita sob medida para algo que seja super-plus-mega-master sublime. Resumindo: je suis habité.  Plenamente habité, com meus problemas que viram piadas.

Dói-me pensar que perdi tanto, tanto tempo com você. Dói-me também saber de ti por aí choramingando, de nhem-nhem-nhem com nossos amigos em comum para que todos pensem que eu sou aquela pessoinha má. Não sou. Você não está tendo sucesso na sua campanha.

O problema é o seguinte: entre trancos e barrancos – e olha só que conclusão mais mágica, mais sublime, mais fodástica que se deu agora, justamente agora – eu sou extremamente amada. Chega a ser surreal a forma como as coisas dão certo para mim e mais ainda como pessoas do bem, de bom coração, me querem bem por nada.

Agora eu preciso respirar, viajar, absorver (porque dá menos trabalho que abstrair, afinal, absorvendo sairá na urina) tudo que nos aconteceu e dar grandes risadas. Primeiramente as internas, sabe? Daquelas que a gente dá andando sozinho na rua, fumando o último cigarro do dia antes de dormir. Depois… ah, depois eu já esqueci tudo, no intervalo entre um cigarro e outro, eu já esqueci.

No mais, fique bem. Chegamos a ser morangos, doces e raros por essas bandas daqui, de clima tão quente quanto o inferno queimando em enxofre. Hoje, nosso morango mofou, não é? “Morangos mofados”. Morango e mofo.

Caio F. continua tendo razão: “Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem”.

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Louros e epitáfios

Por Aimée

Eu chorei porque abri meu e mail e lá estava a oferta de um curso de fotografia com o cara mais fodasso do pedaço, numa cidade diferente da que eu moro. Porra, passei tempos e tempos querendo fazer esse maldito curso, querendo saber se esse meu feeling para fotografia é só mais um clichê de mente alternativa ou se pode ser um talento. Eu chorei, então, porque agora que tenho dinheiro, não tenho como e, portanto, mais um plano enterrado com o epitáfio de “poderia ter sido talento”.

Saí para fumar um cigarro e fiquei lá, fumando sozinha entre um transeunte e outro, gente indo e vindo cheias de assuntos e problemas e eu estava lá, parada. Sem vontade de fazer nada, com o choro engatado na garganta porque eu tenho tanta pressa, mas tanta pressa, de tanta, mas tanta coisa, que não chego a lugar nenhum e assim, enterro planos de vida que ainda estão cheirando a leite, recém-nascidos, porque tenho medo de tentar até o final e frustrar o que levaria o epitáfio de “poderia ter sido a saída”.

Acabo chorando porque sinto saudades dos amigos, da minha cidade e suas chuvas intempestivas, da comidinha light da minha casa. É, até disso eu sinto falta. E esse choro não passa, não quer parar daí acabo tendo que me refugiar no banheiro para ver se encontro paz. Lembro da minha família, do quanto eu queria (e quero) colo de mãe, de avó, de avô, de pai. Eu queria ouvir de todos eles – a família de sangue e a por opção – o quanto eu sou muito legal, muito inteligente, muito bonita e tudo de bom aos montes. Mesmo sendo mentira, eu queria. Meu choro pede um pouco de mentiras sinceras porque essa música do Coldplay está me deixando mais para baixo ainda. Daí eu penso nas minhas mancadas, com eles e comigo mesma e penso que “enterrei” uma série de coisas boas e pessoas que poderiam ter realmente abrilhantado a minha vida, se eu sem querer não os tivesse enterrado com o epitáfio “poderia ter sido muito, muito mesmo”.

Daí eu lembro dele, de quando o conheci há um monte de anos atrás. Eu era boba, sonhadora, positiva e até romântica. E ele também era. Não tinha jeito. Éramos assim um para o outro. Viajamos para praia um milhão de vezes sem nem ter onde ficar só porque queríamos mesmo era aventura. Escrevi cartas e cartas e ele deixava bilhetes quando tinha que sair mais cedo do que a hora d’eu acordar. Eu tinha os dengos e ele os apelidos e tudo pouco importava, desde que fossemos uma coisa só, a nossa unidade sublime. Hoje, não consigo chorar por ele. Já passou. Enterrei-o com o epitáfio “foste meu grande amor. Poderias ter sido eterno.”

Logo agora que a vontade de chorar passou, essa anta histérica que trabalha comigo e pior, senta ao meu lado, não pára nunca de falar. Isso sim me dá vontade de chorar. Por que é tão absurdamente difícil às pessoas calar? Quero silêncio, porra. Quero sentar no computador e escrever o que eu estiver a fim. Quero cada um cuidando da sua vida. Quero não mais ter que fingir que um assunto que não me importa poooooorcaria nenhuma é super interessante. Quero um carinha para dormir abraçada sem que sexo seja obrigação. Quero amar profundamente, mas estou seca, amarga e cansada de enterrar minhas vontades para poder agradar os outros. Estou há anos e anos enterrando minhas vontades e o que sou com o epitáfio de “aqui jaz uma alma profunda que emergiu a superfície. Assim, faleceu superficialmente.”

Eu continuo pensando em quantas coisas mais vou enterrar: os livros que gostaria de ter lido e deixei pela metade, os amigos que pouco a pouco vou perdendo contato, os romances que deixei esvair por medo, as paisagens que perdi, as estrelas cadentes que passaram sem que eu fizesse sequer um pedido e a minha felicidade que tanto planejei e que era enfim, cheia de louros. Não de epitáfios

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Mi casa, mi corazon

Por Aimée

Desculpa minha bagunça é que tem tempo que não deixo ninguém entrar na minha vida. Se eu soubesse que chegarias, eu arrumaria o quarto pelo menos. Trocaria esse lençol sujo de outras noites, mudaria as paredes de lugar e as pintaria de uma cor bem alegre que combinasse com a possibilidade de uma nova vida.

Se você quiser, saio para comprar uma coisinha qualquer para comermos em frente à tv ou na cama, aí a gente pode discutir um pouquinho sobre comida árabe ou japonesa e eu farei uma gracinha qualquer sobre você não saber comer com os “pauzinhos”. E vais dizer que tudo bem, que eu posso escolher e sujaremos o tapete da sala ou a colcha da cama com suas tentativas incansáveis de comer sushi.

Como toda mulher que se preze, não sei me arrumar em menos de uma hora. Melhor você usar o outro banheiro. Esse aqui está cheio dos meus cremes, óleos e perfumes – os quais espero que um dia estejam impregnados na tua pele, no teu travesseiro, nas tuas blusas e mais ainda na tua memória.

Faça o favor de não deixar sua cueca no box do banheiro. Já comprei um cesto para roupa suja, só para você. Nós faremos um trato sobre quem leva a roupa à lavanderia e quem pega. Daí começaremos a dividir não só a cama, mas as despesas, as tarefas e a rotina.

Separei para ti um espaço na minha vida, no meu coração e também no armário. Essas duas últimas gavetas do lado direito são suas. As primeiras são minhas. Os cabides vazios também são para você. Quero que tenhas teu espaço e não falo somente desse espaço físico que quero dividir. Quero que tenhas teu tempo, teus afazeres e tua liberdade para que assim, tenhamos muitas novidades para dividir ao fim do dia.

Na verdade, quero dividir tudo contigo – a casa e as contas. A cama e a vida – Mas multiplique-me. Faça-me perder essas manias individualistas. Apresenta-me mais livros, filmes, músicas, lugares e amigos. Só entre assim na minha vida, devorando todos meus sentidos, se for para somar.

Prometo que essa será a nossa casa, pode entrar. Fica à vontade. Vai ser aqui que recepcionaremos os nossos amigos, os meus e os teus. Nessa sala vão estar nossos livros e coisas nossas. E prometo também que se lavares a louça, eu cozinho e arrumo a mesa, sem problemas. Posso ser todas as mulheres de Chico Buarque para ti, posso fazer teu doce predileto com açúcar e com afeto.

Pareço uma felina, independente e dona do espaço. Uma clássica egoísta. Mas depois de tantos domingos na cama de bobeira e de cafuné descompromissado, verás que eu sou mesmo é um cão vira-lata, me rendo facilmente a quem me agrada e ao resto, eu me adapto. Eu rosno e até mordo de vez em quando, mas te ver dormindo me causa uma paz, uma vontade de ser dócil para sempre que, sei lá. Acho até que virei um poodle de madame. Quero andar em casa toda fofinha e cheirosa só para te agradar.

Venha como vier, mas venha. Preenche esse vazio e toma para ti o meu plano de ser feliz a dois. Entra aqui, na minha casa, na minha vida e em tudo que me cerca… e fica. Vem para ficar até quando quiseres e se assim for, até quando ambos quisermos.

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Por Aimée

Ela chegou voando e como é de seu costume, se instalou no canto que queria. Eu simplesmente fui me adaptando a ela. Primeiro, deixei de passar para o lado direito do meu quarto, que era o cantinho dela. Bem, até quando eu ainda desse conta de entrar no quarto, ainda rolava da gente conviver pacificamente.

Durante o dia, enquanto eu estava no trabalho, ela nem dava as caras ao mundo e muito menos a mim, o que me deixava numa inquietude estranha. Não saber onde ela estava me causava calafrios. “Meu Deus, por onde ela andará? Será que num belo dia vou chegar e encontrá-la mortinha da silva, em cima da minha cama, no tapete do banheiro, jogada num canto qualquer do chão??? Oh, céus!”.

E seguimos essa rotina de só nos vermos a noite. Ela, sempre me causava susto quando adentrava o mesmo recinto que eu estava e por sua vez, eu morria de medo de denunciar que ela estava lá, escondida em meio as minhas coisas, ao meu quarto. Me contaram uma vez que, para o Budismo, as almas menos evoluídas voltam como insetos. Desde esse dia, tenho medo de matar formigas, abelhas e pernilongos. Valha-me Deus, já pensou o caos no Cosmo que eu causaria? Até hoje, olho para uma formiga carregando uma migalha qualquer e penso que esse é o meu futuro se eu não respeitar as bichinhas.

Pois bem, eu estava sem saída. Não tinha nem para quem contar que agora eu tinha hóspede, ou sei lá como eu poderia chamar aquela barata voadora que andava pelo meu quarto. No início, não passava de uma simples barata. Depois, saquei qual era a dela: voadora! Aquela merda de espírito não-evoluído encarnado numa barata queria planar vôo em meio ao meu ambiente de descanso. Um verdadeiro absurdo.

Teríamos que fazer um trato. O lado direito era dela, tudo bem. Essa podia ser uma cláusula nossa. Mas aí eu exigiria uma noite de sono tranqüila, sem que ela aparecesse do nada enquanto eu estivesse vendo tv. Será que aquele bicho não era nada do que eu pensava? De repente, na verdade, “ela” poderia ser “ele”… Ele, o Barato. Ele poderia ser uma pessoa que virou uma barata. Kafka! Sim, a tal Metamorfose de Kafka.

Pensei muito. Refleti profundamente sobre todas as causas dos insetos existirem e além do Franz (Kafka) lembrei também da Mira Sorvino. Como era mesmo o nome do filme? Hum… acho que Mutação ou algo assim. Sei que a pesquisadora de insetos interpretada pela loira caia numa arapuca das baratas, no esgoto de Nova Iorque. Não, você não leu mal. A arapuca era das baratas. Elas, simplesmente passaram por tantas mutações e devem ter comido muitos alimentos transgênicos, com agrotóxicos ou muito feijão quando crianças, que acabaram por crescer um bocado e cheias de vontade de (literalmente) dominar a tal Big Apple.

Metamorfose! Assim eu a chamei. O que faria eu com Metamorfose, a barata que tinha se tornado minha colega de quarto? O Budismo e o Kafka me fizeram ter medo de matá-la. E eu não via mais como conviver pacificamente com aquele ser. Eu já dormia sobressaltada. Virava na cama e ouvia o bater de suas frágeis asinhas pelo nosso quarto, mas não a enxergava. A danada era esperta. Provavelmente, Metamorfose enxergava o vidro sombrio de Raid que permanecia no nosso criado mudo. É difícil trazer paz para uma relação onde não há confiança mútua. Muito complicado mesmo.

Não posso dizer que não operei grandes mudanças na minha vida depois que Metamorfose e eu passamos a conviver. Eu simplesmente deixei de comer no quarto e sequer na cama. Nem pensar! Passei a não deixar copos d’água ao lado da cama para que a barata não morresse afogada. Era preferível que eu morresse de sede do que correr o risco de pegar um copo de água e sentir coceirinhas na boca, não é? Escovo sempre os dentes antes de dormir e lavo as mãos agora, afinal se me lembrei de Buda, Franz Kafka e Mira Sorvino, porque deixaria de lembrar dos conselhos que minha vózinha me dava sobre as baratas: “Escova os dentes e lava as mãos antes de dormir senão elas vêm te roer”.

Bem, agora já tendo conseguido sugar da minha relação com Metamorfose tudo de bom que ela poderia me oferecer, enfim, chegou a hora do adeus. Tento não lembrar com tanto afinco desse dia, mas tenho quase certeza que eu estava de TPM e o pior, me dói saber que “Metax” – como carinhosamente a apelidei – não tinha nada a ver com meus hormônios. Mas enfim, a hora chegou: cheguei em casa, cansada, entrei no quarto e lá estava ela, ou ele. Na minha cama com uma outra barata, ou um outro barato. Não sei, não olhei direito. Agi totalmente por impulso e nem cogitei a possibilidade daquilo me acarretar problemas espirituais.

Que desplante aquele ser ínfimo, aliás, AQUELES seres ínfimos (no plural!) abusarem da minha cama. Não conseguia tirar da minha cabeça quantas inúmeras vezes aquilo possivelmente já deveria ter acontecido. Poxa, ela não estava satisfeita em tomar conta do meu espaço, do meu medo? Não estavam mais sendo suficientes as minhas migalhas a ela? Provavelmente, não.

Sem raciocinar, peguei o inseticida e vi a morte daqueles seres profanos chamados baratas voadoras. Até hoje, me dói pensar em quão sofrida foi a tortura, a morte lenta que Metamorfose teve. Ás vezes, me pego pensando se o que me aguarda é esse inferno dos seres não-evoluídos que ainda tiveram o desprazer – ou no meu caso, o impulso – de matar outros seres menos evoluídos ainda. Sabe Deus e talvez nem Ele saiba o que será de mim. Só sei que foi assim. Ponto final. Tchau, Metamorfose.

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Por Aimée

* Para ler ouvindo “Another girl” …

Pensando aqui comigo no que pode ter dado errado, eu vejo que nada deu certo. Começou ruim e terminou pior. O problema é que ficou aqui no meu peito as músicas que dizias ser a minha cara… e eram. E eu sempre te dava um sorrisinho de canto de boca para dizer que enfim, eu amava cada uma delas. Sabias que eram minhas canções, só minhas, mesmo que eu não te dissesse uma só palavra. Tu sabias.

Um dia vou te proibir de existir, já que quero muito te odiar. Onde já se viu estragar Beatles? Não consigo mais ouvi-los sem lembrar das voltas e voltas rumando a lugar nenhum no teu carro – até mesmo porque este foi o único local para o qual me levaste – conversando sobre qualquer coisa bem idiota que me causava risos e gozo, para depois terminar em choro e sono.

Provavelmente essa ferida aberta cure um dia, em algumas sessões de terapia ou remédios controlados. Mas no momento, me dedico a te odiar porque meu mundo contigo foi imundo. Mas e daí? Eu não gosto mesmo de coisas perfeitas, de histórias com fadas e borboletas. Eu nem acredito nesse blá blá blá e essa coisa de seres um idiota, é real. É uma merda, mas é isso: é realidade.

Eu remo contra a maré para te esquecer e queria muito poder acreditar que a correnteza vai me ajudar, mas vira e mexe me vejo a deriva do meu objetivo. Um dia te esqueço e também vou esquecer do iê-iê do Fab Four, do cheiro amadeirado do teu perfume, da tua mão vadia subindo pelo meu pescoço e puxando meu cabelo pela nuca. Um belo dia vou te odiar.

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Por Aimée

– Só quis dizer o que disse: não se afaste de mim.

Ela ouviu isso poucas semanas antes dele sair pela porta da frente. No entanto, apesar de todo descuido com ela e com seu sentimento, era só isso que ela gravara: não se afaste.

Ela recuou com pesar no peito, com choro engatado na garganta e sem refletir, achava bem no fundo que ele voltaria atrás, que ele a procuraria e a pouparia de dizer o que sentia. Passou a pensar maior por conta das quedas e dos baques que elas causam. Teve que aprender que muitas vezes é necessário dar passos para trás para poder avançar. E assim foi recuando da vida dele. Cortou-o como assunto, sumiu dos olhos dos amigos em comum, sumiu dos mesmos bares, dos mesmos horários, da mania de traçar sua rota com intuito de colidir com a dele.

Sentia-se avançando em diversos momentos. Mas era só ele chegar que retrocedia mil léguas e ouvia, bem ao longe, como o último suspiro de um moribundo: “não se afaste de mim”. Com o tempo passou a não evitar, precisou enfrentar esse querer como quem sai na chuva para se molhar.

Ficava sabendo dele pelos outros, sempre notícias sujas e feias. Quase sempre envolvendo mentira e mágoa. Ela pensava, angustiada, “te afasta de mim”. E na verdade, ela nem precisava pensar. Ele estava longe e essa tinha sido sua única atitude de hombridade: a distância.

Mas não tinha jeito. Sentia ele nos lugares, pressentia quando ia encontrá-lo. Sonhava com ele e pensava muito tranquilamente, que um dia aquela raiva ia passar e temia por isso, porque tinha certeza que no dia que isso acontecesse, iria ao encontro dele dizer que tudo bem, que passado era passado e provavelmente cairia em alguma mentira de olhos verdes, em alguma mesa de bar barato com pessoas idiotas porque fora somente isso que ele proporcionara. Por isso tinha medo de se esquecer. Temia por deixar o tempo passar, mas não tem como pará-lo, até porque ela sabia que os ponteiros não andam. Eles correm.

E sussurrava:
– Por favor, te afasta de mim…

***

Ele olhava com despeito e se arrependia de ter conhecido-a. Arrependia-se dos olhares, das ligações, de ter alimentado cada surto de menina mimada e tola. Mas sabia que já não dava mais para voltar atrás. E então dava graças a todos os santos por terem se afastado.

Quando a encontrava, fingia não a ver. Levantava a cabeça com soberba e arrogância e a transformava num fantasma, pensava para si mesmo:

– Puta mimada…

Era grosseiro com seus pensamentos mesmo sabendo que era ele o errado, que ela errara por culpa dele. Por suas obras e atitudes egoístas, ela tinha sido sim, uma puta. Mas como não cogitava a possibilidade de mudar de gênio, era bem mais fácil colocar a culpa nela.

Vira e mexe a encontrava com o outro cara, o novo namorado. Cara gente boa, ele pensava. Imediatamente a visualizava como uma bruxa feiticeira, que devia entorpecer o cara com suas estórias, com o perfume da pele dela, com aquela cara que ela fazia quando estava aborrecida que dizimava uma população toda só num olhar.

E quando a via com o namorado, nos bares por aí, pensava nos mil motivos que tinha para odiá-la, para querer derretê-la da humanidade, dessas bandas da terra, para nunca mais ver nada nessa vida tão narcisa quanto ela. Para nunca, nunca, nunca mais vê-la tão segura de mão dada com outro homem.

Por um segundo, escondia seu orgulho na embriaguez e imaginava-se perto dela, tocando seu ombro e via, como se fosse real, ela virando devagar e olhando por cima do ombro com olhar espantado.

Então, ele sussurrava:

– Não se afaste de mim.

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Fogo e ar

Por Aimeé

Porque tu és fogo e eu sou ar. E dizem por aí que ar faz o fogo aumentar, faz o fogo correr mais longe. É verdade que o ar expande o fogo.

Não podes me prender porque nem sequer podes me ver, mas me sentes com a pele e suplicas por mim cada vez que abres tuas janelas, tuas portas, tua camisa e tua alma para mundo. Perguntas por mim em cada um desses momentos, mesmo sabendo que não adianta clamar por mim. Chego quando quero. Não dependo da tua vontade, nem da tua intensidade de me querer. Posso ser mais intensa à noite, posso causar rebuliços, derrubar tuas coisas, quebrar os vidros que te cercam e mesmo tão esperada, certamente incomodarei. Desmarcarei a página do teu livro como uma súplica para te pedir atenção.

Tu és o fogo. Aquele que arde, queima, incendeia e o faz porque assim é da tua natureza. Vais queimando e corroendo todas as minhas esperanças perdidas. Renovas meu sorriso, minhas manhãs, meu paladar e minha cabeça com teu calor. Causas-me um fogo interno, que faz com que minha face fique rubra. Trazes-me essas cores vivas, essa sensação de vida, de força, de coragem, de vontade em seguir em frente porque tua chama hipnotiza a quem quer que seja. Deve ser por isso que cresci ouvindo para não brincar contigo assim, à toa.

Talvez seja por isso que foste o primeiro entre tantos – e digo tantos, tantos, porque me queres assim, complicada, ácida e quase cruel quando te digo que foram muitos e muitos tantos outros antes de ti – que me pediu calma. Vagarosamente, me pediste que eu diminuísse meu ritmo, meu querer intenso. Viste que eu só sabia ser assim e me levaste pro teu fogo de ser dominador.

Então, por mais que não consigas me aprisionar, sei que precisas dessa minha força. Eu permito a partir de hoje e para todo e sempre seja lá até onde esse sempre vai dar ou o que signifique, que minha força te conduza a todos os caminhos porque te quero agora como meu próprio caminho. Selamos então um pacto: tu serás o meu fogo e eu serei o teu ar.

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You´ve got a gift, baby!

Por Aimée.

Cresci ouvindo que cada um dá o que tem e foi assim que para mim, isso sempre me pareceu muito óbvio. Claro que cada um dá só o que tem, não é? E quando a gente quer mais, quer tanto, quer por demais que acaba pensando que a pessoa realmente tem algo a mais para dar e a vê dando um pouquinho de nada do que há em si para gente? Ainda não aprendi a lidar com essa situação. Nem quero.

Tenho o costume de entregar para os outros as verdades, de dá-las de presente em belas caixas finas com laços feitos por aquelas experts em embalagem, de balcão de loja de departamento. Eu remôo com carinho, com todo meu carinho, na minha imensa cabeça de amendoim qual a melhor forma d’eu dizer aquilo, a minha verdade, e pior, de que forma vou entregar de presente a minha verdade que espera a sua verdade.

Decido me adiantar e decido que é hoje, é agora e vou falar de qualquer jeito. Se estiver decidido, está decidido. Minhas verdades não voltam atrás… quer dizer, mais ou menos.

Chego perto tão pesada, mas tão pesada carregando tudo isso de verdades verdadeiras, absolutas em sentimentos puros, profundos, fulgazes e claro, profanos – porque é de carne vermelha e sangue quente e corrente nas veias que sou feita – que repouso no meio dos sorrisos falsos e da falta de assunto.

Meu presentinho foi te ver me tirando uma parte do fardo de carregar as minhas verdades. Tiraste de cima do monte aquela embalagem que embora menor, é a que tem mais efeito no todo de “presentes” que tenho para te dar: o início da conversa, a partir dali dependi de mim. Nem isso conseguiste aliviar.

Fui te dando uma por uma das minhas verdades, sentindo o vento tocar no meu rosto e gelar a minha alma. Eu sentia frio. E me deu vontade de ser aquele vento que também tocava o teu rosto, mas não te gelava. Deixava-te mais seguro, mais forte, inteiro, com olhar penetrante.

São poucas as vezes que falas sem olhar nos olhos, que mexes no cabelo sem que eu saiba que é exatamente aquilo que farás naquele segundo, que teus gestos não combinam com tua palavra e teu pensamento, e que ainda sim, seja tudo tão desconcertado, mas tão desconcertado do que deveria ser, assim como as tuas roupas, teu cabelo, teu palavreado, que é tudo tão desconcertante que combina, que tem unidade.

Só sei que ao tempo recorde de uma carteira de carlton red, uma coca-cola, duas águas e as cervejas que pediste para ti, a gente resolveu o que nem tinha solução. Expliquei-te por A + B que te quero, que já não me basta a insegurança de esperar tua ligação ou que já não quero mais fingir que meu cargo em tua vida é amiguinha.

Pedi-te em outras palavras que não me iludas, que não me deixes iludir, que não me cegues com essa tua unidade, com tua amizade, com as músicas perfeitas de bandas novas que eu já amo desde que ouvi a primeira vez e que estarei limitada a ouvi-las só contigo, só naquele carro.

Eu te dei todas essas minhas verdades ao vivo – e como me recriminaram quando eu disse que o faria assim, ao vivo – porque queria sentir o impacto que elas teriam em ti. Foi bom ver que causou apenas um leve desconcerto, que parecias já saber o que ouvirias o que falarias e o que sentias.

Para alguém que é tão dona das verdades e está acostumada a brincar com elas, como eu, foi como ficar pelada na frente de um bando de estranhos. Foi ver-te destrinchando cada passo que eu tomei, cada palavra que eu escolhi deferir para aquele momento.

Ao final da conversa, ao final do pagamento da conta, ao levantar-se de cadeias e no decorrer do caminho para o carro, para o “tchau, até logo, see you, so long” eu pensava que quando as minhas verdades não são cruéis para mim, não servem. As minhas palavras só me tocam se quem as escutar estiver com um para-raio bem em frente, porque daí elas vão… e vem. Com certeza, vem.

Então, só posso admitir que meus presentes foram feitos para mim. São eles que me trazem para o mundo real, que me dão esse tratamento de choque de te olhar hoje e em tão pouco tempo sentir-te um, sei lá, um meio que justificou o fim, uma curva, um atalho tortuoso, morno. Eu te olhei há alguns dias e assim te senti: morno. Nem frio, nem quente. Morno, assim como vômito. Acho que eu te vomitei de mim.

Aquela conversa nada mais foi que eu colocando o dedo na garganta e deixando a minha diarréia mental de mulher que tem cabeça de amendoim e provavelmente estava na TPM verbalizar tudo na mesma velocidade, intensidade e tempo que eu pensava. E porra, não é que funcionou?

O fora disfarçado de “foi só o momento errado que fez com que não déssemos certo” me rendeu um dia deprê, vários cafezinhos, um choro sem sentido, um porre, mais um choro de porre, um sapato esquecido no carro de um pseudo-amigo que tentava me beijar enquanto eu emitia um dialeto que traduzido seria “mas eu o quero pra miiiiim” e uma manhã seguinte de ressaca. E de muita risada. E de muuuuita liberdade porque te vomitei de mim.

Quem disse que não valia a pena eu embalar tão bem as minhas verdades para dar-te de presente? Primeiro pensei que me darias de volta algo que te sobrava, que era indiferença. Mas agora eu entendi esse quebra-cabeça. Eu sei, eu sei… sofro de LER: de ler-de-za.

Me deste foi esse todo que me faltava durante o tempo que te escolhi para mim, que decidi enrolar um pouco do meu corpo e da minha’lma na tua. Me deste o que me faltava, o que eu não encontrava no meu estoque de sentimentos. Obrigada. Me deste liberdade, baby.

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Cego demais para ver (-me).

Por Aimée.

Sabe o que me irrita mais do que não te ter? Viver com essa sensação de que não devo. É… não devo te ligar, não devo te encontrar, não devo querer saber de ti, não devo saber com quem estás ou o que fizeste. Não, não e não. E todos os deveres são negativos. Odeio me sentir negativa e se tem algo que me irrita mais do que não poder te ter é essa sensação horrível de limitação.

Vem-me uma vontade louca de saber se está tudo bem no teu trabalho ou se aquela avalanche de problemas pelas quais te vi passar melhorou ou piorou. E aí, eu sofro por longuíssimos cinco minutos porque quero ser forte. Ora merda, eu sou forte. Quem disse que não sou?

Ninguém me viu rezar baixinho, apertando os olhos e pedindo para que o teu anjinho da guarda te guarde, te ilumine e te faça sumir dos meus sonhos, dos meus desejos, dos meus anseios. Ninguém sabe. Então, eu sou forte.

Eu que sou bem durona arrisco e pergunto por ti. Mas é só porque eu sou cool, descolada, moderninha e ah, nada demais. Quem ousaria pensar o contrário? Afinal, eu consigo ser impessoal e a gente… quer dizer, você, não passou de um lance, um flerte, um rolo, um cacho… Eu sou durona e só quero saber como estás, se está tudo bem. Enfim, é “só” falta de assunto mesmo.

Aí eles pensam que eu sou eu e boi não lambe. Sou essa descolada que pega e não se apega, que “vivo a vida”, que “curto o momento” ou qualquer outro clichezão desses de escrotona que sou . Ah, se fosse assim….

Mal eles sabem que rezo para o teu anjinho da guarda em silêncio, que guardo na memória o jeito desajeitado do nosso primeiro beijo e que sufoco todo dia essa vontade de saber de ti repetindo o mantra “Vontade dá e passa. Lembre-se: você é descolada, é durona e é cool”.

E aí guardo minhas confissões para o meu travesseiro e acabo contando para ele que putz… eu queria mesmo era arrombar a tua porta e chegar mais perto de ti, te matar de susto e dizer aos gritos que não. E esse seria o último não que eu me permitiria. Eu diria bem alto que nãaao!

Não, eu não sou tão descolada assim, não. Eu tive ciúmes do teu sono quando dormiste antes de mim porque ele me privou de alguns minutos a mais contigo. E não, não gostei quando demoraste para me pegar em casa porque eu fiquei ali, sentindo o tempo se arrastar como se nunca fosse chegar a hora d’eu te ver e meu coração ficou na boca e meu estômago doeu de tanta ansiedade.

Não, não e não. Eu não permito mais que não me ligues, que não te importes, que sumas… porque te quero. Simples assim. Não é justo abafar tudo isso. Não é justo ser tão doce e tão amargo comigo. Não tens autoridade para sequer não saber o que sinto.

Eu tentei engolir aquele choro, mas desceu rasgando na minha garganta e imediatamente, mas imediatamente eu senti o salgado de uma lágrima e agradeci. Não pelo choro, mas por não estares lá naquele momento. Doeu-me ouvir de alguém amigo que agias assim porque não me conhecias de verdade. Doeu só um pouquinho saber que é verdade.

Sigo explorando a mesma química fajuta que usas comigo, mentira amarga e mentira doce. Injeto-me esse veneno que me faz delirar e pensar que em algum momento vais me ver como eu te vejo, vais me enxergar como te enxergo e eu vou poder dizer de verdade, pela primeira e última vez:
– Não. Não solto mais, nunca mais a tua mão… Vem aqui comigo que eu tenho tanta coisa que não sabes para te contar….

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