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Archive for abril \30\+00:00 2008

Por Moara Brasil

Ser pobre é uma merda mesmo. Andar de bonde pelo Guamá, meio dia, ouvindo tecnobrega no volume mais estridente , depois da faculdade, na “brea” de Belém, de salto alto, com fome, não é para qualquer um mesmo! E nos últimos minutos antes de descer na parada de ônibus, decidir se pára no restaurante que vende fiado ou arriscar almoçar em casa, e de salto alto, é sempre uma grande dúvida quando se tem que trabalhar exatamente duas horas da tarde. Decidi almoçar em casa, pois me falaram que ia rolar peixe na panela. O problema é que não senti cheiro de peixe no caminho da minha casa, e meu estômago junto com meus calos foram ficando mais tristes. É, a Cláudia não havia ainda preparado o peixão, e eu estava atrasada para o trabalho. Então decidi correr para o restaurante que vende fiado. Eu não gosto muito de lá, mas pobre não deve reclamar de muita coisa não. Entrei na sala, de cheiro gorduroso, daqueles que ficam impregnados no cabelo, procurei o povo do agência que eu trabalho, que sempre costuma almoçar por lá, e não vi ninguém. É, meu almoço seria solitário mesmo. E uma mesa vagabunda me esperava no cantinho.

Sentei, abri o livro “Luxo Eterno”, que eu estou estudando para o meu projeto de tese de conclusão de curso, coloquei o fone do meu mp3 nos ouvidos e esperei o garçom vir. Depois de ler quase uns dez minutos de identidade visual de marcas luxuosas das teorias de Lipovetsky, minha barriga roncou e resolvi procurar o tal do garçom.

Ele entrou na sala e disse que já ia me atender. Tudo bem, tudo bem. É bom ler num ambiente com odor de gordura e uma fome de gastrite. Fechei o livro, não consegui ler de jeito nenhum. E a TV me chamou a atenção: “Você já viu algo igual? Pois essa mulher é diferente, você já viu alguém escrever desse jeito?”. Enquanto isso o apresentador gordo mostrava um papel com uns rabiscos ilegíveis, com um fundo musical sensacionalista e o mistério da mulher que escrevia estranho era a grande sensação do programa da Record, naquele dia muito quente. E a mulher que escrevia diferente apenas escrevia de trás para frente. Entende? Na telinha da TV também brilhava uma notícia: Caso Isabella Nardoni, fique sabendo como pode ser fácil descobrir de quem é o sangue nas roupas encontradas.

E a minha barriga roncava, a minha mesa ainda estava cheia de pratos e restos alimentares que outro ser havia deixado por lá. Um trio de amigos trabalhadores chegaram, e sentaram na minha frente.

Olhei no canto do olho para a mulher loira, e ela perguntou para o garçom “O filé daqui é filé mesmo?”. Me irritei, mas não com o que ela havia falado, e sim porque outro garçom apareceu no recinto e não me atendeu. Acenei e chamei o maldito. “Espere um minuto”, ele disse. “ACONTECE que eu estou a meia hora aqui, já pedi para arrumar a minha mesa, todo mundo já está de barriga cheia e a sala está ficando vazia e ainda nem me ATENDERAM!”. “Tudo bem”, ele falou na maior calma do planeta.

Mas eu não sei o porquê, meu filé escroto na chapa não veio, e sim o bife da cavala…ops…bife à cavalo da Loira do canto. Não era o meu dia mesmo, e o primeiro garçom surgiu das trevas para me perguntar adivinha…. “O que eu havia pedido mesmo?”. Claro que me irritei, disse que ia embora, e que não estava acreditando nisso. Mas enfim, tive paciência, e esperei pelo filé de pobre. E pra piorar, quando veio a comida, coloquei molho inglês na carne pensando que era molho shoyu, claro…porque restaurante de pobre pra gente pobre como eu coloca molho inglês em vidrinhos Sakura, só para enganar malditos pobres como eu.

E para finalizar, ainda tive que ficar esperando uns 20 minutos do lado de fora da agência, de salto alto, com calo no pé, jeans, uma comida de pobre no estomago e num corredor calorento, porque ninguém tinha chegado ainda. E quando os colegas chegaram, ainda me disseram que estavam no mesmo restaurante que eu…é… pobre tem dessas coisas, pobre tem que passar por isso. Pobre tem que sofrer mesmo, e não reclama!

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Lascívia

Ora, as obras da carne são conhecidas e são: … Lascívia… (Gl 5:19)
Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: …Paixão lasciva… (Cl 3)

Por Sofia Brunetta

O nome dela era Lascívia Maria, Lascívia para os muito íntimos. Pouquíssimos. A mãe biológica era uma ex-hippie, ex-presidiária, ex-amante de um senador coronel fornicador famoso no velho oeste brasileiro: o interior de Maceió, Marujeripe. Saiu vida a fora e deixou a pequenina para ser criada pela avó paterna, rígida feito vara verde, do tipo que não escorre leite jeito maneira. Ouviu de um forasteiro, que aliás, julgava ser o verdadeiro pai da criança- a despeito do que bradava o falecido político- o salmo supracitado entre os prazeres da carne e as conversas de cama. Um pouco por gostar do ritmo que o nome assumia ao ser dito e muito por pendenga da bruxa-velha, registrou a menina.

Cresceu assim, do confessionário para as missas da tarde. Antes do almoço, novena e em dias de regra- esta prova viva de que a mulher é coisa do Demo- jejum pra aplacar os pecados da carne enquanto durasse a quizila com a natureza.Vestido comprido,cabelos presos, o andar inseguro das jovens prometidas ao Senhor. Como era sem graça a pobre criatura.

Foi assim até que um destes dias, quentes como só o inferno e o sertão podem ser, imergiu na tina com água fria, enquanto a avó não voltava para irem a missa. O sabão de coco, duro, escorregou pelo corpo franzino. E nesta de procurar, água que entra e sai, madeira roçando a pele limpíssima, quase estéril… Naquela tarde, e nos próximos dias, o corpo inteiro mais vivo, o sangue quente de Lascívia.

Rezar, confessar, imersão. A vida tornou-se um pouco mais colorida.

Fim de tarde quente, tomou refresco de pequi, geladinho, servido pelo menino da rua de baixo. Reparou que ele já estava bem crescido. Tomou outro, e outro. Estava forte, no ponto, o suco e o menino. Todo dia, enquanto a avó discorria o terço com as suas convives tão velhas quanto ela e o profeta, aproveitava pra matar a sede e prolongar a prosa. Mostrar um pedacinho das anáguas luxuosas de cambraia da cor da pele. Um convite ao pecado, ali, expostas. Recostava na soleira da porta rococó, sob os olhares blasé-sacanas de querubins que adornavam a madeira, crucifixo entre os peitos, para alegrar as tardes de entregas.

Araçá-boi, pitanga e o de pequi. Azedinho, né? Perguntava o vendedor, de olho na satisfação e as belas curvas da cliente. Os pingos da bebida escorregando no pescoço macio. Antes de encontrar o decote, agarrou-se com Lascívia.

À tarde, quando a avó chegou em casa, estranhou a febre da neta, mas não deu descanso: à missa e depois confessionário. Orgulhou-se da demora em sair da casinha. O Padre, sorridente, deu as alvíssaras pelas prendas da moça. Incansável . Os coroinhas que iam estudar o catecismo, saíam de lá sabendo sobre Eva e o pecado original mais que a velha beata poderia supor.

Rezou a missa com o Leiteiro, ensinou o latim para o jornalista forasteiro, e até o Seu Manoel, da padaria, quis saber mais sobre o caminho para a redenção dos pecados. Não importava a idade, aparência e tamanho. Todo homem é digno de redenção e Lascívia.

Logo havia arrebanhado fiéis, em especial entre os senhores de respeito, que a cada dia iam mais a missa. Ao seu lado a avó prendia o sorriso, tentando disfarçar o orgulho da neta, professora das palavras do senhor. Corada, mais redonda, como era bonita a doce Lascívia.

Ao meio dia o padre esperava ansioso, suor do pecado escorrendo pela batina. Naquele dia sua ausência foi sentida. Nem o catecismo, nem suco para matar a sede. Nem sermão, nem latim. A tarde quente, quase no fim.

“Lascívia: Propensão para a lubricidade, à luxúria. Libidinagem, sensualidade, cabritismo. Medicina Satiríase.” Repetiu mais de uma vez o significado, cada vez mais alto, até que um riso frouxo saiu pela garganta e escorregou dos lábios agora perniciosos. Naquela tarde resolvera demorar consigo.

Enquanto imergiu uma vez mais na tina gelada, cheiro de coco, os bons homens da vila suspiravam. Sobravam os sucos nos garrafões de barro e os meninos se arranjavam nas bananeiras, ansiosos pelo próximo ensinamento. Saudade, vício, luxúria, Lascívia.

Santo remédio, todos diriam.

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Eu amo Chester Cheetos

Por Anna Carla Ribeiro

O pai dela paquerou a minha mãe há 40 anos. A minha tia tem o pai dela como melhor amigo. Uma outra tia minha, mais voltada à boemia, adora beber com o dito cujo. Mesmo assim, nos conhecemos sozinhas, por uma dessas coincidências da vida que mais parecem estar escritas em algum lugar acima de nós.

A gente sempre conversa muito. Pela boca, pelos olhos, pelos polegares e por todos os gestos que involuntariamente costumamos fazer. Não é preciso explicar para a Carol o que eu odeio. Ela sabe, sempre sabe, mesmo quando eu tento disfarçar. Não tem jeito.

Primeiro tentamos ganhar a vida cantarolando “Aerosmith” pelas ruas de Belém. Fizemos sucesso no cemitério, estaríamos ricas se ela não tivesse tido uma crise de riso da cara do coveiro. “Tu pensa que é bonita, piveta?”, ele indagou irritadíssimo. E então fomos proibidas de mostrar nossos dotes por lá.

Aí resolvemos ter outras grandes idéias. Inventamos o programa de fitness “Fique Em Forma Na Madruga”, um ídolo patriarcal, a professora galinha, a lenda do carro esbandalhado e uma faca que corta tudo sem o menor esforço – até mesmo um prédio ou a alça viária.

Mais uma vez o sucesso voou de nossas mãos. Um dia, quando estávamos tomando suco de bolinhas e comendo miojo de tomate, depois de umas ‘buxudas’ de maça, seu irmão jogou todos os nossos projetos pela sacada para dar aos pobres. O sonho dele sempre foi ser japonês. Aí já viu, né?

Então tivemos que estudar juntas a vida toda para podermos sair do eterno castigo que nossos pais nos deram pela tamanha irreverência. Nos preparativos para a faculdade, nos empenhávamos nas provas. Provamos a pizza mista da Companhia Paulista e todos os dotes culinários da sua querida vovó. Além de experimentar, é claro, todos os compartimentos da casa na hora de tirar uma soneca.

Para o espanto de todos ao nosso redor, passamos juntas na faculdade. O que ninguém sabe é que só conseguimos êxito graças à nossa criatividade. Inventávamos músicas para gravar as matérias. “As Repúblicas Bálticas são, tchurururururururu…. Letônia, Estônia e Lituânia, dandandandannnn…”. O mundo é dos espertos, já dizia algum velho bem antes da gente nascer.

Depois de formadas, temos novas metas. Planejamos realizar a “Festa do Leopardo – Volume II” e já estamos nos preparativos para nos lançar na mídia. Isso mesmo. Carol entrará no Big Brother 2009 e depois seguirá carreira como cantora de pagodes antigos. Seu primeiro álbum será intitulado “Chester Bahia: A saga de uma pagodeira nostálgica”. Quanto a mim, estou treinando uns passos de hula dancers. Até o ano que vem devo estar no Hawaii.

Mesmo assim, sei que ainda nos encontraremos para novos planos, aventuras, fantasias, invenções, enxerimentos e coisa e tal. Ah, como eu te amo, Chester Cheetos.

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Para os amigos saudosos,

(Carta de uma grande amiga das ohvarianas)

Até que enfim consegui. Depois de todos esses dias, querendo desesperadamente conversar de verdade com alguém, escreverei para vocês meus amigos, que estão ao mesmo tempo tão longe e tão próximos.

Na verdade, entrei num casulo. Nada muito profundo consegue chegar. Tô numa de apreciar as superficialidades. O que tem refletido em tudo: faculdade, família, trabalho, amizades e amores. Não sei bem se por ter sede de querer fazê-las todas ao mesmo tempo, ou se de ter me empanturrado de todas.

Viver tudo tão depressa de certo modo me anestesiou. E esse meu constante torpor já se tornou tão claro que tenho me prejudicado com as conseqüências. Sabem que tem gente que até anda preocupada com meu comportamento? O que acontece é que mesmo assim, não me considero menor ou menos humana por tudo isso. Aliás, me considero até mais normal agora. Só que me deixa incomodada com essa novidade é que ando mais confusa, instável e muito, muito mais impaciente.

É foda. Fico olhando umas tolices ao meu redor, um menino falando merda, uma amiga chorando, chorando e não fazendo nada pra finalizar essas dores; uma galera que por mais engraçado que pareça, está à procura de uma coisa, mas sempre reagindo indiferente e conquistado tudo oposto ao que diz querer.

Todos os dias que eu saio com pessoas de neurônios ativos. Percebo que a busca por menos superficialidade existe, mas é tão difícil que ficamos assim, estagnados e num ciclo que é tão vicioso quanto escroto.

No começo até que é legal, engraçadão- “iuurrrulll todo mundo solteiro..” – mas depois, quando realmente precisamos conversar, trocar idéias, conhecimento, cadê? Não é de se espantar essa minha amargura, não. Bichinho danado em extinção, esses seres humanos. Lembram deles? Sensibilidade, calor humano, afeto, cumplicidade.

E reclamo! Não de barriga cheia e sim pela falta de ter como enchê-la. Mas digamos que eu esteja “meio satisfeita” por ainda ter pessoas que conseguem evoluir um bate papo, via msn, mesa de bar ou casa de amigos (…). Os demais, se não estão ausentes geograficamente, estão fisicamente, ou eu estou, sei lá.

A verdade é: cansei, cansei de ser boa, cansei de ser legal e cansei de ser sexy (trocadilho infame vale, né?!). Queria emoção de verdade, grupos de amigos, como vocês, que se metiam na casa do TT, com uma garrafa de vodka e muito pra conversar, de ver o pôr-do-sol e levar a Paulinha pra tomar seu santo sorvete da Cairú, de olhar ao meu redor e agradecer a Deus por tudo que me foi dado. Belém tá um saco sem vocês, e eu, tô mais ainda…

Contratam-se urgentemente, pessoas interessantes, ou então, desse casulo não tem borboleta que sai.

Amo vocês.

Vivi

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Bom dia por quê?

Há um surto de dengue no Rio de Janeiro. Ainda existem pessoas morrendo de tuberculose no Brasil, uma doença de vários séculos atrás. Chove a dois dias seguidos em Belém do Pará, então me digam: Bom dia, por quê?

A natureza se revolta quanto aos males que nós mesmos plantamos nela. O salário mínimo sobe, juntamente com o preço dos itens que compõe a cesta básica. O Governo teme um surto de consumismo causado por um outro surto de créditos pessoais fáceis que todas essas financeiras nos empurram a torto e à direita a aceitar esse dinheiro “fácil”. Tudo isso pode vir a causar um súbito acréscimo na inflação brasileira. E tudo certo. A gente acorda e tem que desejar um bom dia para todo mundo.

Não consigo entender isso. Passei anos da minha sendo criticada por ser arrogante porque não tinha o hábito de “dar bom dia” às pessoas. Veja bem o termo: DAR BOM DIA. Quem sou eu para dar um bom dia a alguém, meu amigo? Eu só posso dar o que é meu e se meu dia ainda nem começou, como posso dá-lo a alguém?

Hoje posso considerar-me uma pessoa “educada”. Claro, claro. Estudei anos e anos em colégios particulares caros, que a minha mãe suava as pencas para poder pagar. Fiz balé, estudei música, aprendi a tocar piano e olhava para os dois lados quando atravessava a rua. Aprendi a ler e a escrever e graças a Deus, posso dizer que criei o hábito por fazer ambas as coisas com muito bom gosto e requinte.

Mas só agora, prestem bem atenção, só agora que rio à toa, que acho graça das piadas sem graça das pessoas, que “dou bom dia” a quem eu nem conheço só pelo simples fato de cruzar com o mesmo em qualquer percurso banal, é que sou considerada uma pessoa educada.

Não sei se cuspo na cara dos outros agora ou se deixo para mais tarde, sabe? Não consigo entender, não entra na minha cabeça qual a dificuldade que encontram em ser simples, objetivo. Nunca deixei de desejar um bom dia aos que me cercam e se ainda não tomei uma dose de cianureto no café da manhã é porque transbordo de esperança a cada amanhecer.

Não jogo lixo na rua. Boto maior fé no desenvolvimento sustentável, da mesma forma que levanto a bandeira de que a Amazônia é nossa. Não sou preconceituosa com raça cor ou credo. Acredito plenamente na energia que as pessoas transmitem, acredito em cosmos. Rezo antes de dormir, leio o Evangelho sempre que sinto um aperto no coração e isso me acalma.7ee1d814a09abe924d6174a226c0d295b181fac0_m

Estou perdendo ou resgatando princípios? Ainda não sei. Eu acho que na verdade, educar-me só serviu para me deixar assim, com gastrite, porque me deu uma compreensão tão grande sobre um monte de coisa que me deu mais vontade de saber mais um monte de coisa e me sinto assim, vazia ainda de um monte, monte-monte muito grande de muita coisa que eu sei que o mundão lá fora está a espera de quem quiser desfrutar.

Não sei se quero aprender a conviver em sociedade. Nem sei se o que faço hoje em dia é isso. Não sei se vivo ou sobrevivo. Não sei se caso, compro uma bicicleta ou se opto por tornar-me vegetariana. Não sei. E ainda sim sinto uma paz interior por não saber, porque ver o noticiário de manhã cedo me dá calafrios aí eu volto a me perguntar: ora porra, bom dia para quem, hein?

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Por Moara Brasil

Ontem, quando sentei nesse sofá, aparecestes bem do meu lado. Com aquela calça jeans velha e feia, uma camisa Hering e aqueles brincos da sua orelha esquerda. Por que sempre és a minha referência para todos? De ti, lembro daquela pipoca de panela, que só você num maldito século XXI sabe fazer tão bem. E eu te amava. Amava esse teu jeito de tratar uma mulher com respeito entre quatro paredes, e escondido de todos os olhares curiosos que nos cercavam. Quando o relógio marcava 11:30, meu coração acelerava de tanta ânsia por encontrá-lo. Era tiro e queda, 11 e meia e eu ouvia o meu “Echo & the bunnymen” tocar no meu celular ericsson, e eu gozava de tanta alegria. Tomava um banho e usava aquele perfume amadeirado só para você sentir que o amor tem cheiro. “Vamos locar uns filmes? Te encontro lá!”. E eu ia toda feliz, como alguém que tivesse ganhado na Loteria, ao seu encontro.

A melhor parte das nossas madrugadas que eu nunca esqueço, era a briga na hora de escolher um filme em que ambos ficassem satisfeitos. Você vinha com aqueles filmes “western” ou de guerra, e eu com aqueles da sessão de dramas… e você falava “Lá vem tu com esses filmes tristes e sem pé nem cabeça”. Mas eu insistia em fazê-lo gostar do meu mundo, e tu também insistias para que eu gostasse do seu. Só que eu disfarçava muito bem ao sorrir para a sua vida.

Sempre me contava que os teus dons para a cozinha,e agora lembrei daquelas batatas-fritas, era porque você tinha sido criado por umas 10 mulheres. E que era impossível não aprender o mundo delas, pois elas eram mais presentes do que qualquer célula do seu corpo. Por isso que você cuidava de mim, às vezes como uma irmã ou até como filha.

Mas eu não queria ser sua irmã, e muito menos filha. Porque eu te desejava. Desejava cada suspiro seu, a tua boca que eu olhava à 30 centímetros de distância. Eu sei que tu me desejavas, mas tu não me querias ainda. E tu lutavas contra os teus instintos. Mas sempre acabávamos na cama. E te viciastes em mim como em teu “Red”. Me ligava todas as horas e todos os dias.

Mas eu era igual a ti, e tu igual a mim. E não merecíamos um ao outro, porque éramos viciado na pior coisa da vida: a boemia. Para os outros, nós tínhamos um caso,ou até mesmo eramos os namorados modernos. Mas nenhum se assumia, e tapávamos nossas bocas. Enquanto isso, tu colecionavas algumas garotas, e eu tentava do outro lado com alguns meninos. E tornarva-se divertido saber das tuas e tu saber dos meus: Qual foi dessa vez?Mas logo esse?

E o contrato era que ninguem se comprometeria com ninguém, era apenas diversão.

Até que um dia tudo virou revolta em mim, tudo passou a ser raiva e uma lágrima atrás da outra. E foi o fim naquela noite, em que eu te dei aquele soco. Porque pra mim, naquele momento, merecias coisas piores, mas eu também não tinha a razão, e não admitia isso. Por que tudo transformou-se em um novelo de linha?

E naquele julho, nós estávamos fracos e acabados. Todos percebiam, todos comentavam. Todos tinham pena. Mais uma vez chorei no chuveiro, e partia as veias de tanta dor. Será que tu choravas?

E só via a tua frieza e pena nesse teu rosto branco. Mas eu insisti no que não dava mais. Decidida, andei pelas ruas do Reduto, numa tarde em que chovia eternamente. E fui até você, contar que não devias ir embora daqui, que eu te queria ao meu lado, chorei miséria, me humilhei como uma capricorniana nunca faria. Não vá embora. E o Echo &The Bunnymen tocou no meu celular (MALDITO ECHO & THE BUNNYMEN), mas não era você , era outro. Esperei as tuas palavras: “Não dá mais, minha querida. Sabe qual o problema? É que eu nunca terei sossego ao teu lado. Eu nunca seria teu homem e nem tu a minha mulher. Tu és livre, e eu não agüento isso”. Não falei mais nada, e disse “obrigada”. Segui desorientada pela chuva rala, e fui embora de ti para sempre, e sem vontade de olhar pra trás. Obrigada, meu amigo. Obrigada.

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Querido,

Lembro quanto esperei por ti. Tuas premissas de mudanças profundas, marcantes. As melhorias que promoverias em mim a partir da tua chegada. Sonhei ser bela, me sentir mais mulher, única. Virias pra deixar as melenas mais macias, minha pele como a de uma mocinha dos filmes de amor. Estive a espera do meu par perfeito, serias a concretização das minhas fantasias ocultas. Inconfessáveis, tão esperadas. Pra te ter comigo, enfrentei os horrores da disputa desenfreada. Duelei com outras com as quais a natureza deixou de ser generosa. Estavas ali…à vista, com aquela cara sorrindo pra mim. Sarcástica, traidora. A mentira é alva como o teu lindo sorriso. Por isso enganas tantas. Te abres pra qualquer uma, maldito.Enfeitas onde já há beleza, de resto depões contra elas. As feias.Que te sustentam, te mantém exposto, ali, em meio a tantos outros como tu, depois no meu banheiro e no de tantas outras que acreditam nas tuas promessas de juventude eterna.
Mereces o ralo, sabonete infeliz.

Sofia.

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por Raoní Beltrão (Nosso querido amigo convidado e conhecido pelo famoso “Açoite sem fimmmm” )

Homens e homem, a diferença está no número. Principalmente quando novos, homens comportam-se de maneira bem peculiar em grupo, uma espécie de treino. Sim, pois um jovem sozinho é inseguro, porém em grupo é destemido. Tudo bem, alguns parecem que jamais envelhecem mentalmente e continuam a comporta-se de tal maneira, mas o fato é que durante os treinos de machismo, homofobia, arrogância e truculência são definidos padrões de comportamento específicos, a maioria referentes a relações com outros homens, principalmente os que se julgue “não tão homens assim”. Sobra um pouco também para o tratamento referente às mulheres, com exceção de algumas familiares, o treinamento padrão nesse caso advém da metodologia de casos imaginários de conquistas e desempenhos sem fim.

Em tais rodinhas, não há homem virgem, o mais inexperiente no mínimo já transou com inúmeras mulheres, simultaneamente inclusive. Pois, a inexperiência revelaria a falta de “macheza”. Nesse sentido, há o treino sobre casos imaginários referentes as performances sexuais, relegando as mulheres a meros aspectos anatômicos, resumidos basicamente em bunda e peitos, além da submissão é claro. Quanto a seleção, basta ser “comível”. E a chance de falha na hora “H” é praticamente irremediável para a moral machista. Pois, se a mulher for “comível”, não há argumento que justifique tal “fraqueza”.

Após a graduação em machismo, alguns homens passam a viver por si só e por em prática finalmente suas teses de dominação masculina. E aí, que alguns menos obstinados em buscar uma pós-graduação em machismo começam a experimentar contradições do conhecimento acumulado por toda a adolescência. Por exemplo, quanto ao apetite sexual, descobrimos que os atributos anatômicos não são suficientes para nos apetecer, inclusive sexualmente, praticamente uma blasfêmia! O descalabro é tamanho que chegamos até a nos envolver emocionalmente (um absurdo!) com mulheres que, digamos assim, não se encaixam aos padrões anatômicos pré-estabelecidos… Daí, vem a crise existencial, estaríamos perdendo a virilidade, o instinto predatório sexual?!

Algo tem que ser feito, para tanto voltamos à caça até abatermos uma presa digna de nota ao “grupinho” (leia-se a todos que consigamos contar). É então que vem a prova dos nove, imediatamente para cama, iniciamos o “teste de virilidade”. Porém, não mais que de repente, aquele afã todo se esvai nas lembranças das asneiras proferidas, naquele bate-papo digital que revelou aquela “falcidade” (com “c”!!!), naquele convite ao show do Bruno & Marrone, naquela sonoplastia fantasiosa, enfim… e na passagem “da primeira pra segunda” surgem certas dificuldades, onde estão as preliminares?, o afeto?, a cumplicidade? Começamos a sentir falta daquele jeitinho especial de amar, que só aquela pessoa especial conhece. E agora o que fazer? Para onde correr? É então que consolida-se o crime sem suspeito, temos um morto-vivo estirado entre as pernas! Logo ele, que acabara de desempenhar seu papel, começa a fa… fafa… falharrr! Oh, não! Seria o nosso fim?! A culpa só pode ser dessa maldita camisinha que nos prende! Alguém tem que pagar…

Talvez aí então, alguns de nós compreendamos que relações afetivas vão além do aspecto físico, e até esse aspecto começa a ser influenciado pela afinidade, pelo am.. am… amor (argh!) e o crime está consumado, o morto-vivo é encontrado, morre mais um machista-vivo e nasce um ser humano sensível a natureza e à humanidade. Encarar o sexo oposto como igual, pensar como um só, amar como todos e todas, libertar-se enfim da ânsia opressiva e alcançar a verdadeira felicidade, que é aquela que se compartilha. Ali então jaz um morto-vivo.

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[ Continuando os textos sobre eles! ]

Baseado em fatos surreais venho por meio deste, tentar entender, juntamente com minhas amigas, colegas, leitoras e afins, e buscar uma resposta para a pergunta que mais assola a mente das moçoilas casadoiras do planeta Terra. E a pergunta é bem simples, machos másculos: QUAL É O PAPO, HEIN?

Engulam o comentário vulgar que “qual é o papo?” só se pergunta para puta em final de festa. Você por acaso nasceu de chocadeira? Tua mãe não te ensinou a ter bons modos e a ser gentil, não-preconceituoso e cavalheiro independente de cor, credo ou religião? Pelo jeito, não.

Então, me explica aí. Continuo levando em consideração que você não nasceu de chocadeira – ou quem sabe até pior, que quem pariu você não foi uma mulher machista, porque isso eu não tolero – e que você tenha uma boa ³ justificativa para achar que qualquer mulher gostaria de receber uma ligação ás 5 h da manhã. Talvez você tenha tido dificuldade para largar a fralda descartável e fazer “bobagem” durante a hora do sono (dos outros) tenha se tornado um hábito. Talvez você só goste de escutar uma voz sonolenta feminina, assim como nos seus velhos tempos de Pampers Ultra-seca.

O que te faz pensar que porque a gente consegue dizer “eu te adoro”, queremos casar, parir dez filhos, adotar um (que se chamará Júnior) e montar uma casa no campo? Se ligue, espertão. Não sabe ler? É “eu te adoro” e não “quer casar comigo?”. Pelo jeito, sua dificuldade com interpretação de texto é tão grande quanto à desistência das fraldas noturnas.

E já que tocamos nesse assunto, interpretação de texto, língua portuguesa e gramática são ce9f154876ffa58bb7f2416d334d71fd00893b3d_mmecanismos que temos para nos comunicarmos com o mundo. Vale ressaltar, querido jumento, que tais palavras como “intaum”, “naum”, “agente”, “concerteza”, “em fim” e mais todos os seus chavões de msn, não existem. E por favor, não me venha com papo de linguagem cibernética. Eu imploro.

Meninas também sentem desejo, viu? Pasmem: sabia que elas até gozam?! É, amorzinho. Isso mesmo. E não pense que você é o gostosão, o bonzão da parada, a última bolacha do pacote só porque a viu fazendo caras e bocas e a ouviu na maior gemedeira. Tem um texto do Xico Sá – todo homem devia ser um pouco Xico Sá. Mal diagramado como for, queria um daqueles para mim, juro! E se não sabe quem é, joga no Google, benzinho – que fala sobre as mulheres que gritam em sofrimento quando gozam. Ele diz que essas geralmente estão fingindo gozar. Bem, digamos que Papai do Céu, quando nos desenhou, ele “tava” meio que debochando da classe masculina.

O resto é muito básico. Aonde você já viu ganhar recompensa por dizer que garota está “meio gordinha” ou perguntar se a mesma “está de TPM”? Isso é mais básico quanto não comentar que a sua mãe amava sua ex-namorada. Caso você ainda insista em bancar o super-sincero, esteja preparado para ouvir em cinco minutos, na mesma velocidade de narrador de corrida de cavalo ou da Mulher Melancia dançando na velocidade cinco a dança do creu, todos os seus defeitos, desde a cueca velha em noite de motel até a fixação por Playstation. Poupe-se da fúria de uma meio gordinha. Ainda mais se ela estiver de TPM.

No mais, anote aí: vocês, homens do século XXI, estão nos fazendo querer retroceder, regredir, não-avançar. Vocês, estão brochando nossas mentes com suas infinitas limitações, idéia pré-fabricadas sobre atitudes e posicionamentos. Vocês nos dão vontade de voltar atrás e tomar da mão das feministas revolucionárias cada sutiã queimado em praça pública, porque simplesmente nenhum homem vale a pena jogar um Valisére com bojo extra no fogo.

Vocês fazem vergonha aos seus antepassados machos, porque não têm atitude como os homens das cavernas que tomavam para si o objeto de desejo. Fazem vergonha aos românticos que passaram noites e noites suando de tuberculose e morrendo de escrever suas cantigas de amigo. Vocês fazem vergonha a si, porque estamos aqui, ali e acolá, em todos os cantos – seja sendo mãe, arrimo de família, chefe de empresa, bandeirinha de jogo de futebol, dançarina de funk, vendedora de picolé ou tudo isso ao mesmo tempo – e ainda assim, vocês demoram a ver tamanha simplicidade que é lidar com uma mulher.

Não somos difíceis de se encontrar. Somos assim, bem-resolvidas, assalariadas, formadas, inteligentes e bonitas. Sim, até as mais barangas são bonitas, meu bem. Porque assim se sentem. Nossas mães não nos ensinaram a ter a Barbie como modelo de beleza. Diferente das de vocês, é claro.

Nossa geração feminina não acredita que o que a Cinderella perdeu na festa foi o sapatinho de cristal, nem que o problema no caminho tortuoso da Chapeuzinho Vermelho era o Lobo Mau. Somos alfabetizadas e sabemos ler as entrelinhas. Não temos mais o mito de casar de branco, nem acreditamos que rachar a conta é humilhante.

Conversamos sobre futebol, sobre música e cinema. Topamos ver aquele filme de ação e vibramos com os gols que vocês fazem nas “peladas” com os amigos. Se fazemos questão de agradar a sogra é por saber que vocês não saem da barra da saia da mãe até sair de casa, então ser bem quista por alguém tão importante para vocês é como um caminho para ser querida por vocês também. É, isso mesmo. Até quando nos oxigenamos, alisamos, encrespamos os cabelos somos inteligentes. Não pense que não.

É baseado em tudo isso que vem a vontade de retroceder. Sim, porque ter sido bacana com seus amigos e com suas famílias caretas não adiantou. Gostar de boa música, de cinema, estar atualizada no que acontece no mundo, ter um senso de humor ácido e afinado tampouco ajudou. As horas e cifrões gastos em salões de beleza não adiantaram e pior ainda, nos fizeram perceber que algumas vezes é “melhor” ter dois peitões de silicone do que um zilhão de neurônios como item de fábrica, em perfeito funcionamento.

Então, retrocedamos. Vamos todas virar Amélias: Amélia Lora Cirino, costurando as cuecas rasgadas do maridinho. Amélia Moara Brasil, lavando as camisas customizadas com beijos de batom vermelho no colarinho. Amélia Ana Sofia D’Alburque Brunetta é de família tradiconal (logo se percebe pelo nome quilométrico) e, portanto, tem um nome a zelar e uma postura a manter, ela acredita que saia curta e excesso de blush são coisas de satanás. Amélia Anna Carla, escrevendo sobre o grande caso das toalhas de mesa roubadas do varal, no jornalzinho do bairro e por último, a ohvariana que vos fala, Amélia Carol Barata cuidando da casa e de não falar nada que não desagrade o maridinho.

Se é verdade que é preciso recuar para poder avançar, já demos o ponto de partida para a corrida em marcha ré. A última a chegar será “bem”: bem-sucedida, bem-resolvida, bem-bonita, bem-inteligente, bem-legal, bem-simpática e totalmente mulher “quase” perfeita da primeira década do século XXI.

Todas em seus postos que será dada a largada!

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Meu amor,

Escutei a nossa música. Lembra? Como foste importante pra mim. Nos teus braços eu descobri mais de mim do que poderia esperar aquela altura. Com a vida seguindo no ritmo lento das histórias tristes, trouxeste a luz para os meus dias serenos. Frios, escuros, sem tuas lembranças doces. Me tiraste a paz, mas o melhor de ti, é que senti frescor. Encheste minha alma de cores e depois partiste.
E eu aqui, cheia de trabalho e coisas importantes pra resolver, ganhando dinheiro, planejando o futuro solitário e delicioso numa enorme banheira em que me refrescarei e terei a certeza de que foste um erro gostoso enquanto durou e que, por sorte e juízo durou pouco. Obrigada por teres vivido outras paixões ao mesmo tempo, assim não te apegaste e me fizeste tua mãe e doméstica, desfrutando o desafio de ter que te colocar pra frente a cada novo dia.
Nada. È o que és perto da imensidão dos meus novos planos e da vida que ainda tenho por viver sem tua presença incômoda, inerte. Ruidosa como a bosta da música que me ofereceste bêbado e agora fica martelando a minha cabeça.
Passar bem… longe de mim.

Sofia.

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O fantasma

Por Anna Carla Ribeiro

Da primeira vez a gente nunca esquece. Naquela noite só conseguia ouvir o barulho da chuva e o sopro agudo do vento ao entrar pela fresta da janela. Era noite sem lua, sem estrela, sem cosmos, sem vida. São Pedro castigava o mundo pela sua pertinente preguiça de existir. E o mundo me castigava por essa contínua ânsia de nunca parar e querer sempre mais, mesmo quando até as formiguinhas do meu quarto adormecem.

Talvez por isso tu tenhas chegado, sem convite, mas com toda aquela costumeira expansão. Ouvi os passos largos e pesados do teu tênis velho e o balanço das antiguidades da mamãe pela tua falta de atenção. Por impulso, dei um pulo da cama e quase saí correndo encontrar tuas pegadas, se não fosse por um detalhe: estás morto e enterrado.

Não entendo porque teu fantasma veio procurar a mim, depois de tanto tempo defasado. Talvez queiras me assustar ou te vingar pelas blasfêmias e toda a minha ignorância e falta de paciência. Talvez queiras me contar um segredo, me dizer como é a vida fora da vida, ou simplesmente és solidário o suficiente pra me fazer companhia quando escuto a música que diz coisas tão profundas. Ou por não conseguir mais atingir a minha profundidade. Ou pelo ‘não’ e pela falta dele. Não sei, definitivamente.

Sei que me assustas. Vou procurar minha mãe no meio da noite pra dizer que tive um pesadelo. Mentira… Saio de casa no começo da semana porque tomei gosto pela rua. Mentira… A verdade é que eu tenho medo da tua presença, das tuas aparições noturnas, do teu cheiro que expande pelo quarto quando abro a janela. Tenho medo de não só ouvir tuas risadas e sentir a tua afundada na cama – sempre espaçosa – mas de um dia acabar te vendo por completo. Já pensou descobrir que teu fantasma é de verdade? Acabo rezando pra que realmente existas, já que a tua falsidade ideológica me faz virar uma louca em potencial com síndrome de sociopata.

Nem sempre com o tempo a gente se acostuma. De repente, teu fantasma grudou mais que meu prendedor de cabelo. Estavas comigo em cada curva, cada esquina, cada pedacinho de torta de ricota, cada piada, cada mentira, cada roupa nova. E eu sempre te reneguei, porque gosto é de coisa de verdade, que possa pegar, pôr, ver, ser. Tudo o que me soa como platônico é que nem tu, mortinho da silva!

Veja bem. Eu não entendo dos vivos, imagine dos mortos. Não sei como funcionam as aparições imateriais, os ectoplasmas, os perespíritos, a mediunidade, o céu e a terra. Nem compreendo a atração entre dois corpos, a química e a física. Sou leiga até em gravidade. A gravidade dos meus erros, dos meus acertos, das minhas decisões. Não sei, definitivamente.

E então fujo horas a fio pela estrada, fazendo curvas rápidas pra que te percas em uma delas e fiques cansado de me alcançar. Já bem longe, sinto que finalmente consegui te exorcizar. Talvez tenhamos mudado de vibração, sei lá. Caminho saltitante pela orla da praia e agradeço ao universo por sentir apenas o que é cientificamente comprovado: a chuva fininha, a areia molhada, a água salgada.

Tudo estaria perfeitamente primoroso se eu não resolvesse olhar pra trás. Vejo-te distraído, olhando pro nada, abrindo uma coca e brindando o horizonte.

Estás vivo, principalmente dentro de mim.

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Num dia de semana qualquer, provavelmente numa quarta-feira, já que esse dia da semana é sempre tão esquecível, recebo um e mail me avisando que chegou com meu nome, à minha casa, uma correspondência da minha “saudosa” faculdade. Parecia que eu estava vendo aquele envelopezinho em tamanho padrão com o logotipo da faculdade em marca d’água impresso naquele verde desprezível.

A notícia era simples e apesar de não ter lido de fato a carinhosa cartinha, de longe, eu sabia como começava e terminava. Talvez a carta pudesse ser usada como exemplo de aula de redação oficial ou coisa assim: a fonte Times New Roman (ou Arial) em tamanho 12, com espaçamento duplo e com 3 cm de margem esquerda e 2 cm de margem direita. Ah, e claro, provavelmente começava com “Cara Maria,”.

unamaO intuito da instituição educacional sem fins lucrativos – nunca entendi porque uma faculdade privada utiliza esse termo, me soa como piada. Sem fins lucrativos. Dá vontade de rir – era me avisar sobre uma dívida pendente.

Mas calma aí. Pendente? Como assim? Já não bastavam as infinitas negociações a cada seis meses (matrículas, rematrículas, confirmações de matrículas e etc, etc, etc) e eu ainda não estou quite com a tal instituição? Ah, continuo sem entender o tal “sem fins lucrativos”. Mas me abstenho de compreensão e visto a carapuça do Shakespeare: “Há mais coisas entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia”.

Mesmo achando que a literatura inglesa aplaca grande parte das minhas dúvidas, fiquei com cara de interrogação até entender de onde vinha a tal dívida: biblioteca! Sim, aquele lugarzinho cheio de estudantes, de livros, de filas, de barulho em véspera de prova. Eu devo a biblioteca da universidade há, hum… deixe-me fazer os cálculos.Cerca de 7 anos! Podem rir, eu deixo.

Há exatamente sete anos atrás, a Alessandra, uma amiga minha que havia ingressado um ano antes no curso de Comunicação Social pediu a carteirinha da biblioteca emprestada para pegar um livro específico do curso. E claro, como toda boa universitária-cabeça-de-vento esqueceu de devolver no dia (ou no mês) que deveria. Resultado: uma multa de R$25,00 no meu nome.

Minha amiga não é caloteira, não. Eu que sou! Decidimos resolver o problema trocando dívidas. Ela assumiria a parcela de uma saia jeans que eu comprei no cartão dela e em troca eu pagaria a biblioteca. Tudo resolvido, não é? Claro que não. Eu,como toda boa brasileira-universitária-cabeça-de-vento, resolvi ouvir o Marth.

O Marth é um ser que mede 2,02 m, publicitário, meu amigo desde os tempos do pré-vestibular. Foi responsável pelo meu primeiro estágio no ramo de comunicação. Trabalhávamos juntos. Metade do tempo fumávamos (ele sempre filando meus cigarros) e a outra metade planejando como dominar o mundo da publicidade com as nossas campanhas super geniais, os roteiros dele super inovadores e as idéias que nunca foram aproveitadas. Nem por nós, nem pela agência. Talvez (muito talvez, gente) seja por isso que estágio não durou mais de 3 meses.

Quem o conhece sabe que falo de uma figura bizarra, que tem uma visão de mundo bem ampla – essa foi a melhor analogia que encontrei para não chama-lo de “idiota” ou dizer “Pára de viajar, doido. Tu só falas besteira” como eu fazia há alguns anos. Digamos que o Marth tinha uma imaginação beeeem ilimitada.

Nessa época do estágio, costumávamos pegar ônibus juntos para ir à universidade e foi numa dessas conversas banais que eu caí no conto ou lenda urbana, como preferir, do Dia do Perdão.

Bem, que há o Dia do Perdão no calendário judaico, eu sei. São 25 h de reza braba e jejum. Mas eu teria que fazer isso para que a instituição sem fins lucrativos “perdoasse” meus míseros R$25,00? Segundo o Marth, a biblioteca institucionalizou o Dia do Perdão para que as dívidas de devolução do material didático fossem absolvidas. Havia um porém: esse dia não tinha uma data certa, nem um mês pontual. Era preciso que você fosse lá perguntar todos os dias se era o Dia do Perdão.

Assim como todo ser em perfeito juízo, nunca acreditei cem por cento no que o Marth falava. Mas poxa, aquela mentira era tão legal. Passei a acreditar. Não no meu amigo, mas na mentira e fui além. Espalhei por toda universidade, mais as três turmas que fiz parte nos cinco anos de faculdade, sobre a possível existência do Dia do Perdão.

Nunca tive coragem de perguntar no balcão se realmente havia o tal Dia do Perdão. Mas chegou a um ponto que quando eu começava a falar sobre o assunto, alguém pulava e dizia “Ah, pode crer. Eu já ouvi falar sobre o Dia do Perdão”.

Hoje, 22 de abril de 2008, eu ainda devo R$25,00. O Marth continua sendo absurdo: a última notícia dele que soube é que insiste na carreira de cineasta e foi fazer a exibição de um filme numa aldeia indígena. Chegando lá, o ser de 2,02 m escolheu um desenho animado da Disney (Madagascar) para passar aos índios que não conseguiriam ler as legendas. Até aí, tudo bem plausível.

O ponto “Marth” da história foi que ele chegou lá e liberou a distribuição de coca-cola e pipoca para os caciques e curumins. Se você por acaso andar pelo interior do Pará e ver um índio trocando qualquer artefato artesanal por uma garrafa de 2,5 l de coca-cola, pode ter certeza. É obra do Marth.

Para mim, restou a lembrança de tempos deliciosos de faculdade, das coisas absurdas que meu amigo falava. Mas o mais gostoso de tudo foi ficar com aquela risadinha debochada ao pensar que a tal instituição educacional sem fins lucrativos parece mulher casada que levou chifre do marido com a melhor amiga: não perdoa, nem esquece. Jamaaaaais!

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(Como o nosso público é bem masculino, resolvi voltar a escrever sobre e para eles: os homens.)

Por Moara Brasil

Quando a mulher entra em greve, o mundo quase desaba. De repente parece que os hormônios afloram pelos ambientes, os homens sabem. E quando percebem que a mulher entrou em greve, sentem o cheiro de greve no ar, e se afastam. É melhor procurar as fáceis. Mulheres difíceis não existem mais, é chato. Só se for a santinha pra namorar, ou as mais quietas que não gostam de uma cervejinha.
É, mas decidir entrar em greve não é fácil não. Greve sexual mesmo, se você ainda não compreendeu, entenda logo! É uma decisão temporária, e dói. Dói pela carência sexual.
De repente a mulher resolve que os antigos “botes” já não lhe servem mais. Quando ela percebe que o fulano só acrescenta um pouco mais de sexo sem alma e sem graça pra vida dela, ela bloqueia. Deleta. E vai contando:

Paulinho diz:

“E ai, sabes qual a boa de hoje?”

Moa diz:

“Sei lá! Eu por acaso sou agenda cultural beibe?”

E mais:

Jorge diz:

“Oi gatinha, quanto tempo! Vamos sair?”
Moa diz:

Tá, bora para uma festa de uma amiga.

Jorge diz:

“Não, mas eu queria só eu e você, então te ligo depois”

“Eu e você?” E o fulaninho te liga cinco horas da madrugada? É puto? Depois quer ficar falando por aí que homem não tem comportamento de “ploc”, que isso é coisa de mulher. Porque na minha santa inteligência, desde a Idade Média, ligar de madrugada, na hora em que eu deveria estar contando meus carneirinhos, é sexo. Então: DELETA.

Fui riscando todos da minha “enooorme” lista. Quando vi, não restavam mais nenhum. Não sobrou um homem interessante com duas cabeças o suficiente para encarar uma mulher, assim como eu. E olha que eu não sou exigente, só quero uns carinhos, um cafuné, uma boa conversa e um sexo insaciável. Apenas.

Então, prefiro me contentar com o prazer de ouvir minhas músicas “autistas”, cuidar dos meus cabelos, conversar com as minhas amigas e escrever sobre vocês. Pra ver se alguém se manca, e comece a se espertar para a vida. Porque homem de verdade, é uma coisa rara. E bote rara nisso pra se achar! Se um instituto fosse fazer uma pesquisa quantitativa e qualitativa, para medir a qualidade perto da quantidade de homens interessantes por aqui, e colocassem nas mídias, com certeza (E COM CERTEZA, por favor, escreva direito), agora estaria acontecendo um fenômeno: uma diáspora de mulheres infelizes da Amazônia para o resto do mundo. É isso. E viva os nossos consolos! E viva os nossos dedinhos. Mas “tá ruim” ein!

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Querido mestre,

Te escrevo para dizer que permeias minhas memórias juvenis. Lembro quando te contava meus sonhos, meus planos, e tu, vivido e experiente, me trazia para o chão. A realidade era posta ali, na minha frente para que deglutisse devagar. O pesar ajuda a ser sábio. E pobre. Como tu, que estás como te deixei um dia: antiquado, falastrão e mesquinho. Tenho pena de ti, perdido em meio às tantas frustrações, sem sonhos, sem novas idéias pra embalar teus longos dias de solidão e arrependimento. Azedo como tua presença e tua esterilidade de pensamento.
Àcida como as palavras que deixaram meus dias ao teu lado tão sombrios.
Tu, que me trouxeste tantas vezes para a realidade, um dia vais limpar o chão que eu piso e lembrar do meu caminho de sucesso longe de ti.
Obrigada desde já.

Sofia.

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Por Lora Cirino

Vocês devem estar pensando: “que mal amadas essas moças deste blog”. É uma citando ex, outra citando “peguete”, outra citando homens imaginários e todas querendo alguém que nos pegue pela mão, nos assuma e nos leve ao shopping (piada interna).
Não gente, o problema não somos nós, é uma coisa que atrapalha vários núcleos da sociedade como um todo: o mercado.
Achar quem te coma, quem te pegue e até quem queira namorar, é a coisa mais fácil do mundo, um sorrisinho já resolve , uma meia dúzia de palavras admiráveis e demonstração de bom gosto musical já encantam. O problema é o mercado…
Enfrentamos dificuldades em vários setores desta área. Quando você começa a se encantar, as saídas foram boas, o sexo foi legal, fofinho, ou animal, aí você adiciona o rapaz no msn e lá vem os terríveis: ”agente” (é agente federal, meu filho?), “concerteza” (proveniente de onde essa palavra?) e “derrepente” (der-re…o quê?). Analisando, nem dá pra entender o que está escrito, se manque, em primeiro lugar. Todo mundo erra, mas tem coisa que é o básico da Raimundinha, me mete logo medo.
Ou aquele s do fofinho, case de sucesso, beijo delicinha, ainda não rolou, que fofo, vai rolar… Vai? Vai, não… Não vai, ele broxou. Calma, eu não tenho preconceitos, broxar é normal! Muito normal, eu sei, tranqüilo. O que não é normal é achar a coisa mais normal do mundo… Por duas vezes seguidas, abraçar e dormir sem tocar no assunto. Ai, gente, dá muito medo. Enfim, não viemos aqui pra isso…
Ou ainda aqueles que querem ser seus amigos. Você é do caralho, gente fina, a melhor companhia do mundo, transa legal e por isso você deve ser nam… Não, não, amiga! Amigos pra sempre é o que nós devemos ser. Porra! Já vale virar madrinha dos filhos da galera? Acho melhor não.
Por isso e por milhares de outros exemplos, minhas guerreiras e futuros pretendentes, a partir de agora, nós queremos é pegar na mão, mas não na mão de qualquer um. Homens se manquem e se tornem interessantes o suficiente, por favor, e quando acontecer isso, não queiram ser nossos amigos. E outra coisa: não seremos mais as mulheres compreensivas e legais, companheiras de birita, que liberam a vida e o resto pra vocês, não usaremos mais maquiagem, nem nos pentearemos, seremos aquelas sem-sal que vocês adoram pegar na mão e mostrar pra mãe. Ah, companhia pra bar? Podem esquecer… Pararemos de beber!
Calma, nosso queridos e fiéis leitores, vocês já são nossos amigos, com vocês continuaremos normais, mas a próxima vítima, se prepare. Afinal, nós somos pra casar, PORRA!

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