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Posts Tagged ‘Gram’

Abri os olhos devagar e pensei que faltava e assim começou meu dia. Senti falta de um afago, de virar para o lado espreguiçando e te acordar sem querer. A ausência maior que senti foi a de te querer daquele jeito de quem acabou de acordar, do corpo quente, do beijo mais por instinto do que por desejo.

81f0eb5f71dd92f97f0317e33f3b494295ab68bf_mMas aos poucos a ausência foi se tornando só minha. Minha dor fina, uma sintonia com a noite passada. Porque eu sabia, como ainda sei que essa qualquer coisa que eu sinto é quase que mentira inventada. É como um vazio para tapar o oco.

Então, eu acordei e a sensação continuou, briga interna. Maldito querer sem sentido, aquieta! Quero-te perto o tanto quanto te quero longe porque me fazes mal. Esse frio no estômago me faz mal, essa vontade de ouvir Gram, de ouvir aquela última música do Chico Buarque que a gente ouviu ontem, de passar o dia deitada curtindo essa nostalgia melancólica que me põe cara a cara com a saudade do que não foi, do que poderia ter sido.

E me dá raiva porque quero. Não quero te querer. Quero te ignorar. E durante alguns minutos eu quase te ignoro, eu quase te cuspo de mim, quase expurgo esse todo bem querer sem razão de ser.

Minha montanha russa particular. É assim que te sinto. Sinto-te subindo e descendo da minha garganta. Sinto meu estômago dando loopings cada vez que vez que atendo o celular, cada vez que te aproximas e cada vez que eu me aproximo de ti, eu quase morro durante um segundo. Minha cabeça quase explode de medo, de tensão, de alegria, de adrenalina.

Mas eis que o dia passa todo assim, com uma trilha sonora particular, com imagens que só eu guardo – e isso me dói, é isso que me causa raiva, só eu guardo. Rua de mão única.

De repente de um todo se fez nada, o sentimento acordou, perdurou, durou e morreu. Durou o mesmo tanto de horas que um dia dura. Um dia com nascer e pôr do sol. Um dia inteiro, uma mentira inteira que morre junto com a noite.

Minha paixão inventada nada mais é do que inquietude. Minha mania de te pedir carinho é só para curar uma carência que não é de ti, é de paixão possível. Então eu invento que quero, invento que gosto, nos dou uma trilha sonora, te dou minhas verdades e minhas mentiras só para não precisar jogar fora essa qualquer coisa que é sentir-se bem e mal, ao mesmo tempo.

Chega o final inevitável da minha montanha russa. As músicas já não têm mais a tua cara, nem os romances são mais bonitos aos meus olhos, eles se tornam chatos e banais. Tão chatos quanto tu. Tão banais quanto o meu dia correndo a esperar tua ligação. Tão bobos quanto eu querendo sentir teu cheiro.

E deito minha cabeça no travesseiro e a cama que antes parecia vazia, tem o tamanho exato do meu corpo, do meu sono. Deito nela e penso que amanhã começa tudo de novo. Minha montanha-russa particular me dá trégua até tua próxima ligação.

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